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Reflexão – Nostalgia do Presente

É engraçado como nossa mente muda quando crescemos. O mundo parece tão mais encantador, tão mais lúdico, tão mais fantástico quando somos pequenos “serumaninhos”! Temos a ideia de que nosso pai é um herói quase-perfeito, que nossa mãe pode solucionar qualquer dor ou problema, que se nossos pais estivessem sem dinheiro, basta assinar um cheque que tá tudo bem (sim, eu não entendia que precisava ter dinheiro no banco pra poder assinar um cheque… que saudade dessa inocência!).

Os dois são gostosos, mas…

Algumas coisas, porém, nunca mudam. Nossa sobremesa preferida continua sendo a mesma daquela que comíamos aos baldes vendo desenhos na televisão. Mesmo descobrindo um mundo novo de sabores, de cores, formatos, o bom e velho pudim/brigadeiro de panela/bolo da vovó serão sempre inigualáveis, e não há Crème Brulée que tire eles do pedestal.

Pra mim, o mesmo acontece com a sensação de ir a um Parque de Diversões. Não consigo me lembrar quando começou essa paixão, essa vontade exacerbada, essa intensa paixão pelas cores, movimentos, frios na barriga que um parque – sim, e somente eles – podem proporcionar. E não venha me dizer que fazer rafting, rapel ou mesmo pular de paraquedas se compara à sensação de estar em um parque. Já fiz tudo isso (maravilhosas sensações, diga-se de passagem), mas são o Crème Brulée na minha vida. Gostoso, mas não é o bolo da vovó.

Não estou aqui discutindo o que seja melhor ou pior. Mas sim o que, no nosso íntimo, é inigualável; e pra mim não há nada igual a ir em uma Montanha-Russa, por menor que ela seja (pode até ser aqueles ‘minhocões’ de parques itinerantes).

Lembro quando ainda criança eu já demonstrava essa paixão por montanhas-russas, e ouvia alguns adultos me dizendo “Ah, quando você crescer vai mudar isso. Eu também gostava, agora tenho medo”. Bem, cá estou eu, adulto, formado, barbado, na casa dos 30, surtando com qualquer anúncio de uma nova MR, onde quer que ela seja. Coisa de criança? É, pode ser. Assim como o bolo da vovó. É sim coisa de criança. E os adultos que somos hoje foram construídos em cima daquela criança sonhadora, inocente, que se lambuzava com esse bolo (e amava sentir o frio na barriga ou ficar tonto em qualquer ride que ia).

Se você olha um grande terreno vazio e imagina como ali seria perfeito para abrigar um parque; se você vê ao longe algumas estruturas de metal e tem um mini infarto pensando ser uma Montanha-Russa (e na verdade era apenas um guindaste); se você tem vontade de socar a cara de alguém que diz “Ah, eu também amo montanha-russa. Já fui naquela amarela daquele parque lá”, porque a pessoa diz que ama mas não sabe nem o nome; se você está lendo este texto até agora e está sentindo um pulsar acelerado no seu peito; saiba que você não é o único ‘louco’. Compartilhamos da mesma paixão, da mesma insanidade, da mesma alegria de sermos fanáticos por parques.

Consegue sentir o ‘airtime’ só de olhar pra foto? Eu também.

E não adianta explicar sua paixão pra alguém que não a sente. Porque é algo de dentro, que sentimos e pronto. Não precisa de explicação. Não entendo o que tanto algumas pessoas veem em futebol, mas não as julgo. Não compreendo porque alguns amigos meus são tão fissurados por carros, sabendo apenas por olhar um farol qual carro é, motor e potência do dito cujo. Cada um com sua paixão, e eu (nós) com a minha (nossa), de olhar um trilho e saber se é uma Intamnin, uma Vekoma, uma B&M. De saber que “Looping” não é qualquer virada de ponta-cabeça. De saber o que é uma wing-coaster, floorless, saber dizer o que é um lift, airtime, first drop.

E nessa montanha-russa que é minha vida, com contas pra pagar, chefes a enfrentar, relacionamentos a conquistar, trabalho a finalizar, tenho o prazer de levantar os braços e gritar o quanto eu amo amar parques e montanhas-russas. Cresci sim, e a paixão de criança se tornou amor incondicional, indefectível, inigualável. Como homem aprendi a amar o que, enquanto criança me fazia feliz. Acredito que estamos juntos nessa.

E agora me deu vontade de pedir pra minha avó fazer um bolo. Fazer o que, se sou essa criança crescida, feliz e viciada nessas coisas da infância!

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